Regresso às Aulas: Praxes
Quando decidi fazer uma série de posts sobre o Regresso às Aulas, incluir algumas apreciações sobre a Praxe esteve sempre nos meus planos. Sei que este post pode já vir um bocadinho tarde, considerando que, para muita gente, as aulas começaram já hoje, mas espero que, msesmo assim, possa vir a ser útil para alguém. Tendo sido caloira o ano passado, é evidente que tenho uma opinião bem formada sobre a praxe e que já tive tempo suficiente para analisar os prós e contras das escolhas que fiz. Decidi experimentar a praxe, mas rapidamente percebi que não me identificava com o que ali se fazia e decidi deixar de participar.
Quanto à minha experiência pessoal, posso dizer que foi fortemente influenciada pelo facto de ter ficado a estudar na cidade onde nasci e cresci. Obviamente, também dependeu do tipo de praxe que tive, já que vários colegas meus (noutros cursos e com praxes diferentes), na mesma situação, ficaram grandes fãs da praxe e serão, com certeza, praxistas fantásticos. O facto de quererem limitar a liberdade que sempre prezei muito e de terem pouca consideração pelas responsabilidades e rotinas que, obrigatoriamente, advêm de ficar a estudar em casa foi uma grande parte da minha decisão de desistir da praxe, assim como ter ouvido muitos deles dizer "A praxe não é integração" - que, para mim, é o único aspeto em que a praxe faz algum tipo de sentido. Embora me tenham mandado fazer algumas coisas ridículas (assoar o nariz a um rapaz do meu curso e outras coisas que tais) e tenha visto jogos degradantes como imitar vacas em acasalamento, aceitaram sempre bem os "nãos" que dizia e foram super simpáticos e compreensivos quanto às coisas que não podia fazer por uma limitaçãozinha física que já me acompanha há uns anos. Mais tarde, soube de histórias péssimas que me fizeram orgulhar-me da minha decisão de largar a praxe mas, quanto à minha experiência pessoal, não posso dizer que tenha sido tão má assim e, noutras circunstâncias, talvez tivesse decidido continuar durante mais tempo.
Mesmo assim, nos meus tempos de praxe, aprendi algumas coisas que talvez possam ser úteis para quem vai agora entrar no primeiro ano da faculdade. Deixo-vos algumas dicas que podem ser interessantes, e que espero que vos ajudem!
- Experimentar a praxe - A minha primeira dica é mesmo irem experimentar a praxe. A menos, obviamente, que o conceito da praxe não se enquadre de todo convosco ou vá contra os vossos valores e princípios, experimentar a praxe pode ser sempre uma experiência interessante e enriquecedora, e a melhor forma de desenvolverem uma opinião em relação a ela - positiva ou negativa. Basearem-se unicamente nas experiências de outras pessoas, especialmente se estas forem de faculdades ou cursos diferentes, nem sempre é uma boa ideia. Todos nós encontramos boas e más pessoas na vida e, como tal, também iremos encontras bons e maus praxantes e bons e maus anos de praxe. Viver a vossa praxe, independentemente da praxe de outras pessoas, permite-vos formar a vossa própria opinião e, quem sabe, encontrar uma experiência muito mais (ou menos!) engraçada do que estariam à espera.
- Manter a mente aberta - Esta vem, talvez, um pouco na linha da anterior, mas passa por deixarem que a vossa própria experiência seja a base de formação da vossa opinião e que não deixem os vossos pré-conceitos afetar a vossa experiência na praxe. Ir para a praxe a adorar o conceito e a esperar uma experiência fantástica não deve querer dizer que fazem tudo o que vos mandam, mesmo que isso vá contra os vossos próprios princípios, e que não devam desistir se se começar a tornar mais uma obrigação e fonte de stress do que um divertimento e uma experiência positiva. Da mesma forma, um pré-conceito negativo sobre a praxe não deve impedir-vos de se divertirem em jogos inócuos ou de participar em atividades que achem que podem vir a ter um impacto positivo na vossa experiência académica.
- Não ter medo de dizer "Não!" - Seja à praxe em si ou a determinadas atividades, dizer não é sempre um direito (e quase um dever!) do caloiro sempre que algo for contra os seus princípios ou o deixar desconfortável. Se algum superior hierárquico da praxe não aceitar a tua recusa em fazer algo, podes sempre fazer queixa à Comissão de Praxe (ou equivalente) ou a algum praxista com mais matrículas. Muitas destas pessoas têm um enorme gosto na praxe e querem manter o seu bom nome, pelo que as "ovelhas negras" também não lhes interessam.
- Avisa os teus veteranos a respeito de alguma limitação física que tenhas. Comigo, foram super compreensivos em relação a isto, e evita muitas chatices no futuro. Se há algo que não consegues fazer, ou algum problema de saúde que tenhas, avisa os teus veteranos e explica todos os cuidados que precisas de ter. É especialmente importante lembrá-los se tiveres alguma alergia, para o caso de utilizarem alguma das coisas a que és alérgico nas praxes.
- Leva roupa confortável. Usar roupa confortável logo a partir do primeiro dia de praxe permite-te aproveitar melhor as praxes e passar mais despercebido, no sentido de não atrair atenções indesejadas para a tua roupa que façam com que os veteranos queiram sujar-te ou amarrotar-te ainda mais do que o necessário (isto, nas praxes que envolvam sujar ou amarrotar os caloiros, porque não é o caso em todos os cursos e todas as universidades). Um equilíbrio entre uma roupa que não grite "Estou aqui!", mas também não diga "Trouxe a pior coisinha do meu armário para me sujarem à vontade, por favor praxem-me" é provavelmente a melhor ideia. Para além disso, vais provavelmente ter de andar muito e fazer jogos que involvem mexeres-te muito ou colocares-te em posições estranhas, por isso escolhe uma roupa com que te sintas confortável a fazer tudo isso. Calças de ganga com que ainda te sintas confortável, mas suficientemente velhas ou baratas para que não te importes de as sujar ou rasgar, uma camisola ou t-shirt simples e uns ténis resistentes e que não custem muito a lavar serão, possivelmente, as opções mais práticas e seguras.
- Não te preocupes muito com maquilhagem e verniz. Provavelmente, e dependendo do tipo de praxe, já não vais ter nenhum deles no final da praxe, por isso não vale a pena perderes muito tempo com maquilhagem e verniz. (Ou, mesmo que tenhas, irá provavelmente ficar arruinado pelo batom com que te vão escrever na testa e o verniz com que te vão pintar - mal - as unhas). Mas, lá está, depende do tipo de praxe a que forem submetidos. Sei de sítios em que não pintam de todo os caloiros, mas não foi o meu caso. Para além disso, segundo a minha experiência, é provável que te digam coisas como "Caloiro não se maquilha" ou "Caloiro não usa verniz", por isso, por via das dúvidas, optar por uma maquilhagem simples e que se note pouco ou não usar de todo, e deixar o verniz para outra altura é, provavelmente, uma opção mais segura. Principalmente no primeiro dia - depois, tenta perceber o que fazem os outros caloiros e o que querem os teus veteranos.
- Conversa com os outros caloiros! Aproveita a praxe para conversar com os outros caloiros. Todos eles estão a passar pela mesma experiência que tu, e é sempre bom ter alguém com quem partilhar estes momentos e, assim, criares novas amizades. Integra-te no grupo, mesmo que a tua praxe não promova isso exatamente. Mesmo que a praxe seja mais individual, vais ter momentos em que podes conversar com os outros caloiros e partilhar experiências ou conhecê-los melhor.
- Não descures as tuas responsabilidades e o teu bem-estar. Durante a praxe, é fácil ter a sensação de que estás a viver só para a praxe e a descurar outras coisas tão ou mais importantes. Tenta não faltar às aulas, mesmo as teóricas, principalmente as primeiras - especialmente em cursos pequenos, os professores apanham quem vai ou não às aulas e é sempre bom deixar a impressão de que pões a escola em primeiro lugar, acima da vida e diversão académica. Se tiveres trabalhos para entregar ou começarem a dar matéria importante muito cedo, certifica-te de que tens tudo em dia. Por melhor que seja a tua experiência na praxe, não deve sobrepôr-se às tuas responsabilidades escolares nem ao teu bem-estar físico e psicológico. Guarda sempre algum tempo para ti. Se a praxe te estiver a roubar tanto tempo que te começa a criar mais stress que sentimentos positivos, não tenhas medo de deixar a praxe ou faltar a algumas atividades.
- Acima de tudo, diverte-te! A praxe deve ser, acima de tudo, algo positivo para ti. Claro que terás momentos de maior seriedade ou em que a diversão não será tão evidente, mas se os momentos maus começarem a não ser compensados pelos momentos mais positivos e se não conseguires encontrar diversão na praxe... Não tenhas medo de sair.
Se não estás a pensar participar na praxe ou estás a pensar em desistir...
Relaxa! Não é um bicho de sete cabeças, e não vais deixar de te integrar nem ser posto de parte só porque decidiste sair da praxe. É provável que, a princípio, as tuas primeiras amizades sejam pessoas que fizeram escolhas semelhantes à tua, porque serão as pessoas com horários semelhantes ao teu e com quem vais passar mais tempo. No entanto, à medida que o ano letivo vai avançando, essas diferenças vão-se desvanescendo e começas a integrar-te em vários grupos e a conhecer melhor as pessoas da tua turma. Não tenhas medo de conversar com as pessoas que foram à praxe, e de lhes perguntar sobre as suas experiências e compará-las com as tuas. Isolares-te só te vai trazer sentimentos negativos e impedir-te de viver experiências excelentes, mesmo que elas não incluam a praxe! As pessoas com quem me dou melhor do meu curso fizeram todas a praxe até ao fim, embora tenha desistido cedo da praxe - e não tive qualquer problema a integrar-me. A ideia de que a praxe é obrigatória para a integração é um mito, muitas vezes perpetuado por quem te quer obrigar a ser praxado, e nunca deve estar na base da tua decisão de tentar "sobreviver" à praxe mesmo que te esteja a criar mais ansiedade do que diversão e experiências positivas. Terás imensas oportunidades de conviver com os veteranos e outras pessoas da tua turma em jantares de curso e outras festas, e ninguém te pode impedir de trajar por não seres praxado. Trajar é uma tradição académica, não praxista, e é uma decisão unicamente tua. Claro que, ao não seres praxado, poderás ficar de fora de cerimónias relacionadas com o traje e com a tradição praxista, mas há várias universidades em que isso não será um problema. Pessoalmente, não me senti nada afetada pelo facto de não ter ido à praxe na hora de trajar.
Para quem está agora a entrar na universidade ou irá entrar nos próximos anos, partilhem como estão a ser os vossos primeiros dias, ou exponham as vossas dúvidas ou preocupações. Aos outros, veteranos, trajados, doutores, partilhem as vossas experiências e as melhores dicas que podem deixar aos novos caloirinhos!